segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

BODHIARMA.

A sua origem está remontada em lendas transmitidas oralmente de geração em geração, uma corrente lendária muito forte, bem como os próprios japoneses consideram Bodhiharma ( 28 º patriarca do Zen Budismo, que viveu no templo chinês de Shaolin, por volta de 525 da nossa era ) como o “´Pai lendário do Karate “, tendo aperfeiçoado as técnicas de artes marciais antigas da China e do Vajramusthi Indiano.
A História das Artes Marciais perde-se no tempo, podendo nesta reflexão iniciar a redescoberta do Karaté a partir da Ilha de Okinawa, que fica no centro de um arquipélago denominado pelos chineses de RyuKyu, que se estende desde o extremo sul do Japão até a ilha de Taiwan. Okinawa com os seus 1.500 Km2 ocupa sozinha mais de metade da superfície do RyuKyu.

Ilha de Okinawa / Japão

”Oki”: que quer dizer em Japonês oceano ou grande , e “nawa”: traduz-se por cadeia, corrente ou corda , essa ilha tem uma centena de quilómetros de comprimento para uma largura de 30 a 40 Km e seu aspecto é realmente de uma corda nodosa e flutuante.
A vida em Okinawa foi sempre dura e rude, para se adaptarem ao meio naturalmente hostil ( a ilha era constantemente castigada por destruidores tufões ), a que o habitante de Okinawa precisou de forjar a vontade, engenhosidade e a sua tenacidade – qualidades que teria que ter em dobro, face aos sucessivos invasores que pretendiam subjugá-la a todo o custo. O instinto de sobrevivência faria surgir recursos de resistência, técnicas de combates a mãos nuas ( ancestrais do Karate ) ou com armas ( ancestrais do Kobudô ).
Okinawa tinha uma posição privilegiada, estava entre o Japão, a China e o Sudeste Asiático ( Vietname,Tailândia,etc..) com isso se tornou um porto especialmente activo. Nessa epoca por volta do século XIV, a Ilha se dividia em três reinos, Chuzan era o maior deles e compreendia o meio da ilha com Hokuzan ao norte e Nazan ao Sul. Sabe-se que em 1372, o rei okinawense Satto prestou voto de obediência ao Império Chinês Ming ( 1368-1644 ) ao qual passou a pagar tributo, e em 1349 o rei Chuzan faz uma aliança com a China dando origem a um intercambio entre ambos os reinos ( chineses e okinawenses). As aldeias de Naha e Shuri tornaram-se cidades comerciais prosperas, entrepostos de todos os produtos do sudoeste asiático e onde se “acotovelavam” japoneses, chineses, indianos, malásios, tailandeses , árabes, etc…. É também nessa época que a china da Dinastia Ming mandou para a ilha um importante grupo de artesãos e artistas – mencionados em antigos documentos como ” As 36 Famílias “. Entre estes chineses encontravam-se indivíduos que tinham conhecimento de Boxe Chinês, surgem os primeiros vestígios de Shaolim Zu Kempo ou Chuan-fa, mas nada permite afirmar que essa arte tenha oficialmente sido introduzida por “verdadeiros mestres”.
Em 1429, o Rei Sho Hashi unificou Okinawa, mas a queda deste império foi determinada por Sho Shi, que temendo a repetição dos conflitos e revoluções que se espalhavam pelo sudoeste asiático lança um édito , proibindo a manufactura e manuseio de armas pela população. Isso facilitou a invasão de Okinawa pelo Clan Satsuma do Japão que após uma resistência morna em 1609 tomou o Castelo de Shuri.
Mesmo depois da invasão o comércio e intercambio com a China permaneceu inalterado e mais tarde um representante militar chinês desembarcava em Okinawa. Seu nome era Kong Shang-Kung, ele ficou conhecido na ilha como Kushaku, e era um perito no sistema de Shaolin.
Em seus seis anos em Okinawa Kushaku ensinou o sistema ( To-te ) a dois okinowenses, Mestres Sakugawa e Kitan Yari. To-te começou a ser chamado karate na primeira metade do século XX, e embora a sua introdução tenha sido uma continua evolução, muito do karate que é ensinado hoje em dia, ao contrário da crença popular, está baseado no Boxe Chinês ( principalmente da área de Fuchou ) e que foi trazido para Okinawa entre 1850 e 1950, alcançando o seu pico de introdução no final do século XIX.
Em 1669 o Clan Satsuma proibiu o uso de qualquer arma a não ser pelos Samurais, com esta lei teve origem a arte do Kobudo, utilizando as ferramentas básicas do seu dia a dia ( sai, tunfa,bo,kama,etc…) como armas. É difícil encontrar evidências de que okinawanos tenham desenvolvido técnicas de luta devido à proibição do uso de armas pelos governantes do clã Satsuma. Ao contrário, as evidencias demonstram que após 1609 , o ti era praticado como defesa pessoal e como meio de desenvolvimento físico pelos membros da nobreza. To-de seguiu um caminho semelhante e desenvolveu-se no final do séc. XIX e inicio do século XX no meio das classes shizoku e seus descendentes , principalmente aqueles que viviam em Naha,Tomari e Shuri.
No inicio do século XVII, o Japão saia de mais uma terrivel guerra civil onde o vencedor foi o clã dos Togukawa e o vencido o clã dos Satsuma , dirigido pela família Shimazu. O novo Shogum mostrou-se hábil em desviar o furor dos Satsuma, derrotados mas não destruídos para os Ryukyu, uma maneira astuciosa de se livrar do inimigo e estabelecer controle japonês sobre uma Ilha então submissa à China. Precisamente no dia 5 de Abril de 1609 os Satsuma se atiraram sobre Okinawa que caiu sob o jugo do clã invasor e assim ficou até 1879, quando a ilha se tornou parte do império japonês, incorporada ao Império de Mitsuhito.
O Japão em 1868 entra na era Meiji, que marcou a abolição do antigo sistema feudal e o nascimento de uma nova sociedade .Okinawa sempre manteve a posição de reino semi-independente até pouco depois da restauração Meiji.
Antes de 1879 as artes marciais eram reservadas às famílias mais nobres, e mesmo após essa data , poucas pessoas menos favorecidas ( fosse de dinheiro, fosse de tradição ) tinham ânimo para praticá-las.
Logo após a ocupação, Shimazu proibiu novamente o uso de porte de armas e também qualquer tipo de prática marcial, mesmo com a proibição da prática de qualquer actividade marcial, os habitantes de okinawa continuaram a praticar em segredo o seu sistema de defesa pessoal, assim no século XVIII contempla-se o nascimento do TODE ( mão chinesa ) ou Okinawa-Tê , ancestral ao Karaté . Sem duvida o dominante das técnicas de combate de mãos nuas eram chinesas e tinham sua “origem” no mosteiro de Shaolin na China ( Kung-Fu ) .
A proibição despertou o interesse pelas técnicas de combate e generalizou a prática até então restrita a uma minoria.
A existência do TI pode ser comprovada desde o início do século XVII através de um poema escrito pelo eminente professor okinawano nascido em 1663 chamado Teijunsoku ( também conhecido como Nago Oyakata ) e que diz :
Não importa o quanto se esmere na arte do ti,
e nos seus esforços escolásticos,
nada é mais importante que o seu comportamento
e a sua humanidade conforme observado no quotidiano da vida
Foi concerteza uma época de treinamentos enfurecidos em lugares secretos , geralmente à noite , longe dos centros habitados entre discipulos de confiança. Este ambiente continuou até final do século XIX e explica em parte a falta de documentos escritos. Técnicamente sabe-se pouco sobre este periodo, excepto que os pés e as mãos tornavam-se armas eficientes e rápidas, capazes de substituírem as lâminas banidas.
Devido a diversos factores politicos a designação TODE de origem chinesa é alterada no seu kanji pelo mestre Gichin Funakoshi para Kara-te ( mão vazia – japonês ), dai para a sua oficialização pela Dai Nippon Butokukai foi um curto passo.
Durante anos o karate evoluiu em três linhas e três cidades distintas o Shuri-te de Shuri , o Naha-te de Naha e o Tomari-te de Tomari; cada um com características distintas:
Shuri-te = principalmente ofensivo, primava pela leveza e velocidade.
Naha-te = Principalmente defensivo, primava pela poder interno e potentes golpes.
Tomari-te = Era uma mescla de ambos e originou o estilo Shito-Ryu de Itosu.
Neste século XVIII também pouco se pode afirmar já que eram ensaiados os primeiros katas, mas muitos movimentos e atitudes estavam camuflados nas danças tradicionais a fim de despistar a desconfiança das autoridades. Ainda hoje podemos verificar e analisar estes movimentos nas danças tradicionais de Okinawa.

Porém pouco a pouco, homens mais dotados surgiram, estilos se diversificaram e líderes que vieram a se tornar mestres codificaram o seu estilo.
No século XIX foi a época da eclosão do Karaté de Okinawa, logo no início desse século ou talvez no final século XVIII, as três grandes linhas mencionadas anteriormente surgiram em força.
Ao redor de Naha formou-se o Naha-Tê, suas técnicas lembram o Kung-Fu do sul da China, com ênfase na utilização dos membros superiores ( técnicas de punho curtas, circulares e destruidoras ), busca pelo corpo a corpo nas posições estáticas, pontapés baixos. É o estilo duro e flexivel que produzirá o Goju-Ryu designação criada pelo mestre Chojun Miyagi e que se distingue igualmente pela busca respiratória “IBUKI” uma forma de Chin-Kun Chinês ( busca pela mobilização da energia vital interna ). Os katas são variados e complexos : Seisan, Saifa, Sanseru, Sanchin, Tensho, Sanseru, Suparinpei, etc…
A popularidade do karate de okinawa cresceu em todo o mundo à medida que os próprios okinawanos passaram a emigrar para o exterior em busca de melhores oportunidades, aproveitando para ensinar esta fascinante e eficiente arte marcial.
Um fato importante é que Okinawa foi a primeira parte do Japão a entrar em contacto com os portugueses, que lá introduziram a arma de fogo , que mudou completamente as técnicas de guerra até então conhecidas.

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