terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

TOKUI WAZA DO ROMIM DIOGO SENSEI

FUNAKOSHI

Sabemos que o mestre Funakoshi escreveu inúmeros livros, mas que nem todos estão disponíveis para pesquisa atualmente. Após a escrita dos primeiros dois livros [Ryuukyuu Kenpou: Karate – “O método dos punhos de Ryuukyuu: Karate” e Rentan Goshin: Karate Jutsu – “Defesa pessoal externa: técnicas de Karate”] o mestre lançou outros textos que são mais facilmente encontrados: Karate-Dou Kyoohan [que contém histórico e fotos da execução dos Kata], Karate-Dou Nyuumon [que contém a explicação da evolução da nomenclatura, a base histórico-filosófica da arte e as fotos do Ten-no-kata] e Karate-Do: meu modo de vida [uma autobiografia escrita pouco antes de seu falecimento]. Além destes, podemos encontrar facilmente o livro “Os Vinte Princípios Fundamentais do Karate: o legado espiritual do mestre” compilado por Genwa Nakasone, que comenta e explica o Niju-Kun, os “vinte ensinamentos” do mestre Funakoshi. Outros livros importantes são a coletânea “O Melhor do Karate” e “Karate Dinâmico” de Masatoshi Nakayama, “The Heart of Karate-Dou / O Coração do Karate” e “Karate-Dou” de Shigeru Egami e “Três Mestres do Budô: Kano, Funakoshi, Ueshiba” de John Stevens. Ao pensarmos estas obras, construímos o projeto que passamos a apresentar aqui.

Como a maioria sabe, Funakoshi-sensei era budista. Partindo daí devemos entender que ele trazia toda uma visão de mundo fundamentada não apenas nos princípios desta religião mas também que, como neto de professores de literatura, havia aprendido as lições contidas nos Clássicos Chineses [coisa reservada apenas aos guerreiros de classe alta e nobres durante a maior parte da história japonesa, país ao qual Okinawa pertencia desde 1600].
Mais importante que isso, Funakoshi parecia ser membro de um dos segmentos “místicos” do budismo, diferentes do Zen tão comentado no meio dos praticantes de artes marciais. Isso também parece ser a realidade da maior parte do povo de Okinawa da época. Uma das evidências diretas disso, na obra de Funakoshi é a história descrita em “Karate-Dou Nyuumon” onde relata o combate entre Karate Uehara e Sokon Matsumura, onde após o enfrentamento comentam sobre o sentido do viver e a relação com a concepção budista da realidade formada pelos 5 elementos [terra, água, fogo, vento e vazio]. A crença nestes conceitos é fundamental para a mudança do nome e dos objetivos do Karate como arte. Várias outras passagens de seus textos se referem à elementos da concepção cosmológica, psicológica e espiritual típica do budismo, que vão acabar na ideia de Karate-Dou, significando: Kara [vazio] – o mesmo ideograma para o Vazio, ou seja o 5º elemento do budismo, a base fundamental de todo o Universo; Te [mão] – o ideograma presente desde os primórdios do desenvolvimento da arte; e Dou [Totalidade ou Caminho] – o sufixo obrigatório a todas as disciplinas registradas na Butoku-kai e que permanece como um dos principais problemas de interpretação teórica até hoje. Por um lado, a semântica do ideograma “Dou” durante este episódio histórico já se referia a um “novo” significado, pois o contexto social estabelecido após a Era Meiji pretendia que este ideograma viesse a significar “caminho”, uma senda ética a ser percorrida por uma pessoa para seu desenvolvimento moral, transformando-o num indivíduo de caráter e útil para a sociedade. Noutra interpretação, o ideograma pode estar representando o significado original, usado durante milênios desde os taoístas chineses, onde Dou=Tao, ou seja, Dou significando Totalidade, Consciência, Self Universal, etc. Esta interpretação não pode ser desconsiderada pois o mestre Funakoshi parece mis ligado a ela, o que era comum na cultura de Okinawa do período, do que à nova interpretação japonesa do kanji.
No primeiro caso, para o mestre Funakoshi, Karate-Dou significaria “Caminho da mão do Vazio” – um Vazio com letra maiúscula, a base fundamental do Universo.
No segundo caso, Karate-Dou significaria “mão do Vazio Universal”, ou algo próximo a isso.
Em ambos os casos devemos desconsiderar a interpretação de “mão vazia” como um arte sem armas, de “mãos livres de armamento”, pois o próprio mestre refuta essa interpretação em Karate-Dou Nyuumon.

quarta-feira, 2 de junho de 2010